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Rico setor agrícola do país pode garantir financiamento a Bolsonaro

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O pré-candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro, que se compara ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está atraindo apoio ao redor das áreas agrícolas do Brasil, onde o capitão da reserva do Exército pode garantir o financiamento necessário para sua tentativa de liderar o maior país da América Latina.

 

A liderança precoce de Bolsonaro em pesquisas nacionais de opinião para a corrida presidencial de outubro, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não aparece na disputa, tem sido menosprezada por muitos especialistas porque ele não tem a forte base partidária que é tradicionalmente necessária para vencer eleições no país de 209 milhões de habitantes.

 

No entanto, a postura dura de Bolsonaro, de 63 anos, em relação à criminalidade e seus planos para afrouxar o controle de armas, somado à sua oposição à proteção ambiental e às reivindicações de reservas de terra para comunidades originárias, está encontrando ressonância em ricos proprietários de terras nas áreas rurais do Brasil.

 

Adesivos de carros que dizem "Bolsonaro Salve o Brasil" e "Somos todos Bolsonaro" são uma visão comum em caminhonetes em Campo Novo do Parecis, uma cidade no Mato Grosso, a potência agrícola do Brasil.

 

Com a prisão de Lula por corrupção, Bolsonaro, um deputado que acumula sete mandatos, lidera um campo fragmentado a cinco meses da eleição.

 

Uma pesquisa divulgada nesta semana mostra ele à frente da ambientalista Marina Silva em cenários onde Lula não aparece.

 

Nos Estados agrícolas da Região Centro-Oeste, que puxam a oitava maior economia do mundo, a liderança de Bolsonaro cresce para amplos 10 pontos percentuais, segundo o Datafolha.

 

Embora esses Estados sejam menos populosos do que as regiões litorâneas, eles abrigam poderosos proprietários de terras abastecidos de dinheiro das recentes safras recordes, cujas doações políticas podem ser essenciais para construir uma campanha nacional para Bolsonaro.

 

Alto e magro, com cabelos penteados para um lado e um olhar fitante, a principal vantagem de Bolsonaro aos olhos de muitos eleitores é uma ficha limpa de corrupção, num momento em que boa parte da classe política foi atingida por escândalos de corrupção. Com isso, eles estão preparados para olhar além de seus comentários mais incendiários.

 

Apesar de sua popularidade, Bolsonaro conta apenas com o apoio do PSL, um partido pequeno. Sob as leis eleitorais do Brasil, isso dá a ele apenas 10 segundos de tempo de televisão quando a campanha começar, uma séria deficiência em um país onde propagandas televisivas têm historicamente grande impacto.

 

Pesquisas sugerem que até 45 por cento dos eleitores continuam indecisos.

 

Aliados de Bolsonaro dizem que seu alcance nas redes sociais compensará o pouco tempo na TV, citando um número de seguidores no Facebook que é mais do que o dobro do que tem Marina.

 

Manifestando revolta contra partidos do establishment, Bolsonaro comparou sua candidatura à campanha de Trump em 2016, agitando alguns eleitores com discursos furiosos, enquanto alarma outros.

 

A Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou Bolsonaro no mês passado por incitar discriminação contra mulheres, negros, indígenas e gays.

 

Ele também enfrenta um processo no Supremo Tribunal Federal (STF) por incitar estupro em um ataque verbal contra a deputada Maria do Rosário (PT-RS) em 2014, a quem ele chamou de feia e disse que "não estupraria porque ela não merece".

 

"Atacaram Trump com os mesmos temas com que eu sou atacado no Brasil: de fascista, homofóbico, racista, nazista. Mas Trump fez um programa de governo dele em que a população acreditou", disse Bolsonaro em uma entrevista à Reuters em setembro.

 

A Reuters não conseguiu contato com Bolsonaro para um comentário sobre esta matéria.

 

Crime em país agrícola

A retórica linha-dura de Bolsonaro sobre o crime também inspirou organizações de base na Região Centro-Oeste, onde fazendas prósperas são ameaçadas por invasões de terra e crescentes roubos.

 

"Se nós pudéssemos ter fuzis como nos EUA, isso dissuadiria o crime", disse o produtor Flavio Giacomet.

 

Uma recente pesquisa da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) mostrou um aumento no roubo armado em fazendas, com quadrilhas organizadas roubando máquinas e pesticidas e fertilizantes caros.

 

Em partes rurais do Mato Grosso, os roubos cresceram 60 por cento e assassinatos cresceram 44 por cento nos últimos cinco anos, segundo dados do governo do Estado.

 

As críticas de Bolsonaro a regras de licenciamento ambiental e interferência do Estado na economia também "são música para o ouvido dos produtores", disse o ex-presidente da Aprosoja, grupo de produtores de grãos do Estado do Mato Grosso.

 

Comentários sobre a China "tomando controle" do Brasil parecem não ter prejudicado seu apoio entre produtores, embora a gigante asiática seja de longe o maior comprador de grãos brasileiros.

 

Bolsonaro disse à Reuters no ano passado que sua prioridade na política exterior, caso eleito, seria de estreitar laços com o governo Trump e buscar restaurar os Estados Unidos como principal parceiro comercial do Brasil, posição que perdeu para a China em 2009.

 

"Não vejo o discurso do Bolsonaro como anti-China. Tem mais a ver com regular os investimentos dos chineses no Brasil", disse Antonio Galvan, vice-presidente da Aprosoja. "Não acho que no discurso ele se refere ao Brasil deixar de vender produtos para a China. Isto não teria sentido."

 

Desde que o Brasil proibiu doações corporativas a campanhas políticas, candidatos têm recorrido a ricos produtores para financiamento e a candidatura de Bolsonaro dependerá de doações agrícolas.

 

Giacomet e outros produtores disseram à Reuters que eles doariam dinheiro para a campanha de Bolsonaro, mas só se ele emergir como um concorrente viável com uma coalizão de partidos por atrás.

 

Bala, boi e Bíblia

Bolsonaro prometeu acabar com a expansão de reservas indígenas no momento em que comunidades nativas reivindicam mais direitos por terra frente ao avanço sólido da fronteira agrícola do Brasil no que uma vez foi a floresta Amazônica.

 

Ele apoia mudar as leis para permitir agricultura comercial e mineração nas reservas, apoiando leis que poderiam limpar um Congresso cada vez mais conservador.

 

Reuters
Foto: Reuters

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