Estudo busca o licenciamento ambiental da região para que indígenas tenham mais possibilidades de captação de crédito e investimentos
A soja convencional plantada por indígenas da região do Chapadão do Parecis tem ganhado a cada dia mais mercados. Semeando em aproximadamente 19 mil hectares, eles buscam a criação de um selo próprio para a agregação de valor à sua produção, bem como a regularização da atividade e liberação de linhas de crédito.
O plantio de soja, além de milho, feijão e pulses, vem sendo feito em municípios como Campo Novo do Parecis, Tangará da Serra, Brasnorte e Sapezal em uma área atualmente de 19 mil hectares, o que corresponde a 1,7% do total da área indígena na região.
O cultivo na região do Chapadão do Parecis, segundo engenheiro agrônomo Lúcio Avelino Zoizocairocê, do povo Haliti-paresi, surgiu há 15 anos de uma necessidade de evitar o êxodo dos povos indígenas de suas terras que partiam em busca de melhores condições de saúde e educação.
“A atividade trouxe de volta aqueles que haviam saído em busca de melhores condições. Hoje, com mais conhecimento sobre os materiais, estudos e pesquisas, registramos uma produtividade média entre 50 e 55 sacas por hectare na soja, o que não está longe da média nacional e nos mostra que estamos no caminho certo”, diz Lúcio.
Segundo o engenheiro agrônomo indígena, o cultivo ocorre em mais de 13 aldeias da região e a produção já chega aos mercados mais exigentes. “Há empresas nacionais e internacionais que já compram a nossa produção para a exportação e vemos que há um valor agregado em cima disso”. Ainda conforme Lúcio, há a intenção dos produtores indígenas em buscar um selo que valorize a sua produção.
Licenciamento ambiental
Um estado foi apresentado e entregue ao presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Marcelo Xavier, em Campo Novo do Parecis, visando a regularização e posterior licenciamento ambiental da área indígena do Chapadão do Parecis. O estudo foi realizado durante 15 meses em cinco territórios indígenas, com uma equipe multidisciplinar de 13 profissionais, incluindo cinco indígenas.
“Além da regularização da atividade, esperamos a obtenção de licenciamento ambiental para que com ele possamos captar linhas de crédito, que é um ponto com o qual sofremos na atividade, pois dependemos de intermediários. Acreditamos que com ele, somado ao apoio do Ministério Público, IBAMA e Governo Federal, só temos mais a fortalecer essa atividade”, frisa Lúcio.
Na avaliação do presidente do Instituto Soja Livre (ISL), César Borges, os indígenas possuem os mesmos direitos que os demais cidadãos brasileiros. “O País deve, na verdade, é se organizar para que as restrições desapareçam. Eles possuem os mesmos direitos que nós de trabalhar livremente”.
Segundo ele, há cultivares convencionais altamente produtivas que poderão se adequar às áreas indígenas e tornar a produção mais rentável, além disso, o instituto pode apoiar de forma técnica e política quanto à comercialização, ao crédito, entre outros gargalos da atividade.