A chuva tem comprometido algumas lavouras de soja no médio-norte de Mato Grosso. O grande volume de água tem impedido que as máquinas façam a colheita dos grãos e, por isso, tem carga chegando aos armazéns com quase 40% de umidade, quando o padrão esperado é de, no máximo, 14%.
Na fazenda Quatrilho, em Sorriso, a 420 km de Cuiabá, foram plantados 4,3 mil hectares de soja nesta safra, mas menos da metade foi colhido até o momento. Isso porque as colheitadeiras passaram muitos dias paradas. Quando as chuvas cessaram e as máquinas voltaram para a lavoura, os grãos ainda estavam úmidos.
“A gente nem esperou o sol sair. Nessa hora tem que medir o tamanho do prejuízo, ver o que vai deixar na lavoura apodrecer e quanto você vai conseguir salvar”, disse o produtor Ailan Dalmolin.
A propriedade conta com um secador de grãos com capacidade para 100 toneladas por hora. Foi um investimento feito para que o grão não siga para venda com excesso de umidade, o que significa prejuízo para o produtor. Nesta safra, o trabalho aumentou e o trabalho na fazenda está sendo realizado em dois turnos.
“O custo, neste momento, aumenta pra todo mundo. Para quem leva pra cidade, aumenta porque você está levando frete de água, não de grão. Trinta por cento da carga é água, então, o custo do frete, naturalmente, fica 30% mais caro. ”, disse Dalmolin.
Em outra fazenda, localizada em Lucas do Rio Verde, a 360 km da capital, as colheitadeiras continuam paradas. Dos 400 hectares cultivados, foram colhidos apenas duzentos. O restante está pronto e o produtor Daniel Schwartz já consegue identificar perdas.
“ A carga que colhemos ontem deu 28% de umidade. Para um caminhão que carrega 48 mil quilos, dá algo em torno de 10 mil quilos de desconto. É bastante, quase 200 sacos para um caminhão que está levando de 700 a 800 sacos”, disse.
A alta umidade nas lavouras causa transtornos também para os armazéns que recebem os grãos. Em uma empresa onde eram descarregados diariamente cerca de 120 caminhões que traziam cargas mais secas de soja, agora, com os grãos úmidos, o trabalho fica bem mais demorado. Por isso, o armazém tem conseguido receber somente 40 cargas por dia.
Segundo o gerente da empresa, Vinícius Acco, praticamente 100% das cargas estão chegando com índice acima do normal.
“Se o tempo estivesse bom e não chovendo, como está, a soja recebida teria de 14 a 15% de umidade. Hoje, a nossa media é de 25%. Já chegou cargas aqui com quase 40% de umidade”, afirmou.
A diferença é percebida até mesmo na hora em que os caminhões vão para o tombador. Os grãos não descem com facilidade por causa da alta umidade e acabam grudando, formando blocos. Com isso, é preciso esperar um pouco para que se desprendam. E, durante a secagem, o trabalho também tem sido mais demorado.
A demora na retirada da soja da lavoura pode interferir também na qualidade da soja. Isso porque a alta umidade aumenta as chances de fermentação, os chamados grãos ardidos.
“Para o grão ardido, nós temos um índice padrão de 8%. Acima disso, cobra-se do cliente. Se o tempo não permitir que a colheita seja feita nesse momento, possivelmente teremos problemas ainda nos próximos dias”, avaliou Acco.
G1 MT
Foto: TVCA/Reprodução